EDITORIAL


Armindo Veloso
 

Porque será? 

Tenho muitas pessoas que estimo e mesmo alguns amigos a desempenharem funções autárquicas como presidentes de junta ou mesmo presidentes de câmara.
Uma vez que os conheço bem, sei o que lhes vai na alma em relação à lei da limitação de mandatos.
Salvo raras excepções, para confirmar a regra, embora disfarcem em público, são contra.
Dizem que trabalham imenso, que não têm vida própria, que ganham pouco, mas, factos são factos, gostariam de continuar.
O desempenho político, autárquico, principalmente presidente de câmara, dá muito retorno. Começa logo pelo retorno emocional. Para quem pretende liderar, ou mesmo mandar – infelizmente há muitos a mandar em vez de liderar – dá uma grande satisfação ao ego. São evidências indesmentíveis. Se por hipótese, a lei fosse revogada, a grande maioria dos autarcas recandidatar-se-ia, com estrondo. Será só pelo desempenho de serviço público? Não creio. O poder é um vício, e que vício.
Os próximos eleitos que substituírem os impedidos de se recandidatar que se cuidem. Vão ouvir muitas vezes, e por muito tempo, que não percebem nada daquilo que estão a fazer e que só estão lá porque uma lei, tonta, os correu de lá para fora.
É por estas e por outras que as democracias se têm de prevenir. As eleições são fundamentais num regime democrático. Mas o Homem, sempre ele, quando lhe convém, arranja logo forma de lhe dar a volta. É como as leis, por exemplo fiscais, logo que sai uma aparecem imediatamente “estudiosos”   para analisar como a contornar.
No caso dos políticos, com jeitinho e com tempo, desde que se semeiem empregos e lugares chave, muito dificilmente saem de lá. Um exemplo - insular para ir para longe... -, a ilha da Madeira, com pouco mais de duzentos mil votantes, tem trinta e cinco mil funcionários públicos. Se cada funcionário público representar em média dois votos, estimativa por baixo uma vez que também há quem não vote, está meio caminho andado.
Até um dia destes.