EDITORIAL


Armindo Veloso
 

Cair na real

Ora cá está ele. O 2013.
Como o mundo não acabou, mesmo com o adiamento – começou por ser para o dia doze de Dezembro e passou para o dia vinte e um do mesmo mês. Há mesmo gente que não tem o que fazer a não ser dizer disparates, como disse o nosso conceituado cientista Carlos Fiolhais – lá temos que fazer o melhor para que o ano dois mil e treze não seja o cabo das tormentas que muitos prognosticam.
Há tempos atrás dizia o mal amado António Borges – por muito que se discorde dele é um dos portugueses que nas últimas décadas mais prosperou no resto do mundo... - que o mais importante que era necessário fazer em Portugal estava feito.
Então a que se referia António Borges? Ao crescimento económico? Não. Também não poderia ser. Está à vista dos olhos. Seria às reformas estruturais? Negativo. Sendo fundamentais só darão resultados daqui a alguns anos. Seria aos juros no mercado secundário - nos prazos mais longos que são os que contam mais - terem baixado da casa dos vinte para os sete por cento? Não.
Era, isso sim, as pessoas terem mudado de mentalidade. Ou seja terem-se convencido que não podiam continuar a viver e a consumir como nos últimos quinze anos.
E isso, o mais importante segundo António Borges, já tinha sido conseguido. À custa de “sangue, suor e lágrimas”? Sim , mas tinha sido conseguido.
Vou cometer uma heresia: Concordo inteiramente com António Borges. E nunca trabalhei no Goldman Sachs nem no FMI...
A primeira das grandes reformas que era necessário ser feita em Portugal e no resto da Europa, antes de sermos engolidos pelos BRIC: Brasil, Rússia, Índia e China, pelo menos, era de facto cairmos na real e vermos que o mundo do consumo desenfreado e do dinheiro fácil não é tão cor de rosa como nos fizeram crer durante mais de uma década.
Passadas as dores do parto iremos ser mais felizes?
Até um dia destes.