EDITORIAL


Armindo Veloso
 

Parêntesis

Dizia-me há tempos quem sabe que se uma decisão, mesmo judicial, tiver um risco elevado de provocar uma grave convulsão social, manda o bom senso que ela seja repensada e até modificada. Vivemos momentos especiais em quase tudo nas nossas vidas. Veja-se o caso da constituição da República Portuguesa, pretensamente garantida ao mais alto nível pelo Presidente e pelo Tribunal Constitucional, que, no caso dos cortes nos subsídios de férias e Natal, abriu um parêntesis e decretou que a inconstitucionalidade tivesse efeitos só a partir do próximo ano.
Numa circunstância normal isto só como anedota.
Exemplos menos mediatizados mas mesmo assim importantes, há-os aos molhos.
Por exemplo, sou do tempo em que a deontologia dos jornalistas era sagrada. Sendo certo, que às vezes, era-o de facto, outras só apregoada como tal...
Hoje, “em tempo de guerra”, não há meio de comunicação social, nacional, regional ou local, onde não haja promiscuidade entre notícias e negócios mais ou menos explícita. Ele são notícias comerciais puras; ele são notícias/engodo para negócios futuros; ele são notícias para justificar negócios em curso ou passados, enfim.
Já aqui escrevi, há anos, que a amputação das liberdades editoriais não vinham na sua maior escala da política ou instituições. Vinham, isso sim, do poder económico que nos paga directa ou indirectamente o nosso sustento e, de uma forma mais ou menos velada, dita as suas leis.
Dizem que há uma justiça para ricos outra para pobres. É verdade. Mas também há, e de que maneira, liberdades editoriais para ricos e para pobres.
Resta-nos uma consolação: quando é que isto desta ou de outras maneiras não foi assim?!...
Até um dia destes.