EDITORIAL


Armindo Veloso





A capela e a oliveira

Quando ando pela minha querida freguesia de Verim, infelizmente a maioria das vezes de carro, a fazer “risca ao meio” mas mesmo assim a chamar quase tudo pelo nome, fico feliz por ver o mar de diferença que existe entre o hoje e o ontem, o ontem de há quarenta e tal anos que me fazia percorrer aqueles cantos, hoje pequenos, ontem enormes; aquelas quelhas gigantes, hoje pequenas estradas; aqueles largos onde se jogava futebol, hoje pequeníssimos terreiros; aqueles percursos sem fim, hoje já ali; o sino, aquele gigante que dizia “cum taralhão bum bum” comparado com os das freguesias vizinhas que diziam “tem chatos tem chatos tem chatos, tirai-lhos tirai-lhos tirai-lhos, qum quê qum quê qum quê”, hoje um sino normalíssimo; aquela igreja gigante, hoje uma lindíssima igreja normal. Como não me apetece terminar este parágrafo!... Bem, como dizia ao passar por Verim, mesmo no meio de tanta coisa boa, uma revolta. Ou melhor, duas. Sem culpa, não tenho dúvida, da Junta de Freguesia que terá gasto muita saliva, alguma sou testemunha, junto de quem de direito, Câmara Municipal, que também, dado o tempo de mingua que vivemos também não terá muita, o que é certo é que a capela mortuária continua uma porcaria de um esqueleto, ó ironia..., no ar. Já agora, os arquitectos da Câmara já viram se o enquadramento visual da igreja, no sentido ascendente, não será afectado pela construção da capela? Estarei a ver mal?... Vou terminar com a segunda, a tal revolta dois, sei que vou tarde na mensagem quer por não haver volta a dar quer por ter sido já há muito tempo, mas, mesmo assim, aqui fica: choca-me quando olho para a igreja e não vejo a oliveira que existia junto à saída da sacristia. Oliveira maravilhosa, centenária, com um banco feito de pedras à sua volta onde os homens anciãos combinavam tantas e tantas vezes as “magnas cartas” e onde Jorge Amado - um dos escritores de língua portuguesa mais traduzidos no mundo e que adorava a nossa terra - interagiu com eles vezes sem fim. Pensemos melhor para a próxima. Até um dia destes.