EDITORIAL

Armindo Veloso





Benefício ao infractor

Sendo certo que comparando-me com muitos portugueses falo de barriga cheia, espanta-me sobremaneira a forma como muita gente está a encarar a crise que vivemos.
Quem andasse minimamente atento já tinha constatado há anos, principalmente após a nossa entrada na moeda única, que “isto”, o consumismo, tinha que mais tarde ou mais cedo dar lugar a uma travagem às quatro rodas com todos os efeitos colaterais daí advindos.
Como era possível continuarmos – refiro-me a dois terços da população porque o outro terço, coitados, lá iam vivendo – no regabofe permanente e a todos os níveis a começar pela ida seis ou sete vezes ao café por dia desde tomar cafés, pingos, pequeno-almoço e porque não um lanche; até aos fins-de-semana, de preferência prolongados, no Algarve ou noutro lado qualquer. Não, não estou a falar de gente rica. Estou a falar de gente normalíssima que com o adiantamento dos subsídios ou com um creditozito, mais um, o faziam.
Está nos livros que quando se gasta mais do que aquilo que se ganha e se recorre a créditos para fazer face aos gastos, haverá sempre crise no fim da linha.
Se me pedissem para seleccionar a maior injustiça resultante desta crise e resumi-la numa palavra eu não hesitaria em dizer “banca”. E porquê banca? Porque foram os incentivadores incessantes do consumismo, metendo pelos olhos dentro dinheiro fácil a toda a gente e agora, que parte da economia implodiu e o consumo retraiu, como tinha que retrair, são os primeiros a andar de mão estendida junto do governo e do banco central europeu, para além dos doze mil milhões da “troika”, dizendo que têm que ser refinanciados para evitarem o colapso. Há lá maior desfaçatez do que esta? Os que sopraram ao balão até ele estourar, são os mesmos que querem um balão novo e de preferência que dêem os primeiros sopros por eles. E há outra solução? Talvez não haja mas espero que desta vez lhes imponham regras rígidas. Pela aragem não me parece que esteja a ser assim.

P.S. - Como é possível um dos principais responsáveis por tudo isto - Dr. Victor Constâncio - e muito mais, leia-se BPN, estar refastelado como vice-presidente do Banco Central Europeu?        
Teremos emenda?


Até um dia destes.