EDITORIAL

Armindo Veloso



Conteúdo e forma
O governo optou por não dar tolerância de ponto na terça-feira de Carnaval. Como sabemos, os usos e costumes fazem muitas das vezes lei. No caso do Carnaval, não sendo um feriado, embora muita gente o confunda como tal, institucionalizou-se que não se trabalha nessa terça-feira.
Lembremo-nos da confusão que deu em 1993 quando o então Primeiro Ministro, Cavaco Silva, não deu tolerância de ponto. Até dizem que começou aí a rampa descendente do seu governo.
Numa situação dramática como a que vivemos o actual governo, a três semanas do Carnaval, ficaria sempre mal na fotografia. Vejamos, com uma crise aguda no terreno sem fim à vista e com a eliminação de quatro feriados, esses sim oficiais, que lógica teria dar a terça-feira de Carnaval? Se desse haveria críticas justas por todo o lado. E logo com a nossa querida imprensa... Se não desse, como resolveu fazer, disseram que o povo tem direito à folia, ainda mais porque andamos deprimidos.
Então, no meu entendimento onde é que o governo falhou estrondosamente? Foi em não ter decidido este assunto há três ou quatro meses dando tempo para que o país nesse dia funcionasse com toda a normalidade, exceptuando, legitimamente, os concelhos onde o Carnaval tem tradição. Aí, haveria tolerância de ponto dada pelos municípios. Assim, não houve julgamentos marcados; não houve consultas agendadas, não houve imensas actividades que requerem programação atempada. Tivemos uma terça-feira atípica.
Para mim, a maior parte de nós que critica a não tolerância de ponto no Carnaval, não tem nada a ver com o Carnaval em si mesmo. Será que mais de dez por cento dos portugueses ligam, mesmo, ao Carnaval? Não me parece. Agora, já ligam, isso sim, ao facto de com um diazito de ponte, segunda-feira, poderem fazer quatro dias seguidos de folia. Quem sabe no Algarve.
Até um dia destes.