EDITORIAL

Armindo Veloso



Mentes

O caso Duarte Lima é para mim dos assuntos mais chocantes dos últimos tempos. Sei que perante as desgraças que vão ocorrendo por esse mundo fora e mesmo nas nossas barbas este caso pode parecer menor. Para mim não o é. E não o é porque toca em algo muito íntimo em mim que nem eu sei explicar.
Há, é claro, que ter em conta a presunção da inocência de Domingos Duarte Lima. No entanto, tendo sido a investigação feita por uma das polícias criminais mais qualificadas e treinadas do mundo e lendo a acusação largamos a réstia de esperança e apenas falamos de presunção de inocência por uma questão de direitos humanos e estado de direito.
Duarte Lima tem uma história de vida que toca de perto nos provincianos com dois dedos de mundo como eu me considero.
Homem que cresceu por mérito próprio no grande centro vindo de Bragança, que trepou a difícil corda da grande política para “intrusos” vindos do fim do mundo, que falava e praticava música, em órgão, como poucos, teve um baque: detectaram-lhe leucemia que lhe teria sido fatal se a medula do irmão não fosse compatível com a sua.
Ultrapassada a fase dramática da sua saúde, fundou e liderou, até há bem pouco tempo, uma instituição de apoio a doentes com leucemia. Acompanhou e apoiou desinteressadamente casos semelhantes ao seu de gente anónima.
Esse homem, que eu aprendi a admirar, está acusado de ter assassinado a sangue frio com tiros de pistola, previamente(!) comprada, uma senhora septuagenária e indefesa, atirando-a para uma valeta na esperança que fosse enterrada como indigente. Mais, essa senhora relacionava-se com ele há anos e confiava nele como homem e como advogado. As contas bancárias comprovam-no.
Como é possível? Que raio lhe terá passado pela cabeça?! Foi pelo dinheiro como parece? Como é possível, repito?!
Dizia-me o meu saudoso irmão mais velho, Januário, distinto psiquiatra e assinante/leitor deste jornal, que a mente humana pode ser a máquina mais terrível que existe à face da terra.
Digo eu: terrível porque pode destruir em massa. Mas terrível também porque é capaz de praticar crimes que sendo individuais, como é o caso, nos tocam no mais fundo da nossa alma.
Que tenhamos a mente sã. Sempre.
Até um dia destes.