Editorial

Armindo Veloso



Profetas da desgraça

Nouriel Roubini é um economista americano, da área democrata, que se celebrizou em todo o mundo por ter sido dos poucos que anteciparam a crise económica de 2008.
Diz ele que os planos de resgate da Grécia, Portugal e Irlanda apenas servem para comprar tempo.
Quanto a Portugal, continua Roubini, “bastam poucos anos para colapsar”. “Os líderes da zona euro poderão viver na ilusão por mais cinco anos, mas chegará o dia de tomar decisões muito difíceis”, disse o profeta da desgraça, como lhe chamaram.
Há tempos atrás, também Vasco Pulido Valente dizia no Público – baseando-se em estudos aprofundados de história nos quais é mestre – coisas mais concretas que iam desaguar na mesma conclusão.
Dizia Pulido Valente que o Estado Social quando foi criado tinha como base premissas completamente diferentes daquelas com que hoje nos confrontamos.
No meio de outros, dois exemplos inabaláveis:
Um, a esperança de vida era muitíssimo menor, logo, os encargos do Estado Social no que lhe diz respeito ao período temporal de reformas não eram comparáveis aos de hoje.
Outro, o custo do Estado Social com a saúde era residual comparativamente ao do tempo que vivemos. As pessoas morriam muito mais cedo, por um lado, e, por outro, a ciência estava a anos luz e não se faziam dez por cento dos exames complementares de dia-gnóstico, análises, etc. Basta ver a panóplia de exames que agora se fazem - às vezes para contentar o paciente e com intervalo de meses.
Os resultados das economias contemporâneas, que também aumentaram imenso, estão longe de compensar o aumento astronómico daqueles custos.
Sendo assim, ou o Estado Social passa a ser só para quem precisa, o que eu acho bem, ou a universalidade pretendida por muitos irá confirmar o diagnóstico de Nouriel Roubini. Para desgraça das novas gerações. E ainda da nossa.

Até um dia destes.