Editorial

Armindo Veloso



Querida RTP

Nos meios de comunicação social regional, cuja grande maioria anda há anos com um “ai Jesus” financeiro e mesmo nos grandes grupos nacionais, privados, que à proporção não andam muito melhor, ainda perdoo que, não ultrapassando os limites da decência, se protejam nos critérios editoriais para não noticiar, ou noticiar mais meiguinhos, factos que digam respeito a empresas, ou grupos económicos, que sejam investidores significativos em publicidade nesses mesmos meios de comunicação social.
Sabendo como sabemos que os meios de comunicação social dependem em grande medida dos investimentos publicitários essa atitude é entendível.
Há dias atrás, num dos noticiários mais importantes da RTP, o das treze horas, o pivot apresentou uma peça assim: “um dos maiores grupos nacionais de distribuição fechou em Coimbra uma das suas lojas mandando para o desemprego 37 pessoas”. A partir da apresentação da peça foram em directo para Coimbra onde um repórter, à porta da tal loja, entrevistava os funcionários agrupados a reclamarem da situação. Todas as filmagens feitas durante os cerca de dois minutos da peça fugiam, como o diabo da cruz, das dezenas de logotipos inseridos nos cartazes das montras e a filmagem global era sempre baixa para não apanhar o grande anúncio da fachada.
Não consegui, nem eu nem as muitas dezenas de milhar de espectadores, vislumbrar quem era o tal grupo.
Por minha dedução, falível, seria o grupo Jerónimo Martins ou o grupo Sonae que são claramente os maiores deste país. Pois é. O problema é que estes grupos devem ser dos maiores investidores em publicidade na RTP. Daí as instruções... É a vida, como diria o Eng. Guterres.
Meus amigos, perdoo a quase todos os meios de comunicação social portugueses aquele comportamento dada a crise que vivemos.
A RTP recebe todos os anos trezentos milhões de euros dos contribuintes e mesmo assim tem uma dívida de quinhentos milhões de euros.
Não te perdoo RTP.

Até um dia destes.