Editorial

Armindo Veloso



Escondidinhos

Escrever um texto de quinze em quinze dias implica que se abordem muitas das vezes temas requentados. Há que tentar dar-lhes um cunho pessoal e abordá-los com a maior intemporalidade possível.
Já aqui abordei a inveja como sendo um dos sentimentos mais destrutivos do ser humano. Ao de leve também já aqui falei da covardia. Hoje quero ir mais fundo, nesta.
Nós, humanos, somos capazes de fazer as maiores barbaridades se tivermos a “mão escondida”. E se forem outros a fazer por nós, melhor. A história está cheia de atrocidades onde os “seres pensantes” lavaram as mãos como Pilatos.
Este sentimento, residente no ser humano, vê-se nos mais pequenos sinais. Não vou chamar a este texto a revolta que está por detrás de certas votações telefónicas, porque esta também existe e seria, será, tema excelente para outra crónica, chamo, isso sim, a covardia à tona.
Se perguntássemos ao vivo e em directo aos portugueses quem seria a figura que elegeriam como o maior português do século XX eles diriam, na sua maioria, Salazar? Não me parece. No entanto, o resultado da votação telefónica foi esse: Salazar.
Se perguntássemos ao vivo e em directo aos portugueses se elegiam “Os Homens da Luta” para representarem Portugal no Festival da Eurovisão da Canção duvido que a maioria dissesse que sim como veio a acontecer.
Ora, os portugueses que mostraram ao longo dos séculos serem capazes de ter atitudes de grande coragem precisam de uma “parede” para dizerem o que pensam.
Talvez seja por saberem o que a casa gasta que os nossos constitucionalistas, ao elaborarem a nossa lei fundamental, excluíram do espectro partidário partidos com pensamento racista ou xenófobo.
Se eles fossem legais quem sabe se no segredo da câmara de voto haveria grandes surpresas.
Tanta gente estaria em lugares de destaque se tivesse a ousadia de dizer de forma correcta e construtiva aquilo que pensa no lugar certo e no tempo certo. O maior exemplo contemporâneo disso é o de Obama, Presidente dos Estados Unidos, na falta do sena-dor requisitado como orador, passou-lhe o “cavalo branco” da vida e ele não o deixou fugir. Disse o que pensava.
Até um dia destes.