Editorial

Armindo Veloso



Rir e comer

Num destes últimos sábados subia eu a Avenida da Liberdade, em Braga, quando duas mulheres com ar de mulheres de mercado, praça como se dizia dantes, se aproximavam de mim em sentido contrário. Mesmo de ombro com ombro comigo, uma gritou a bom gritar. - Ó Rosa tu muito comes! A Rosa, vi eu depois, era uma outra mulher que vendia flores na rua junto ao antigo Nosso Café e devorava um pedaço de pão com uma laranja. - Comer e rir é o melhor da vida! Foi a resposta da Rosa com um tom de voz que pedia meças.
Que cena tão simples, tão genuína e tão profunda.
A felicidade anda mais vezes de mão dada com a simplicidade do que com a riqueza.
Dirão alguns que o povo se entretém com coisas simples – uma forma de dizer fado, futebol e Fátima – e que os regimes políticos se dão melhor dessa forma. É verdade. Mas o que me interessa trazer a este texto é a felicidade intrínseca.
O tom de voz, os sorrisos cruzados e a postura daquelas mulheres não iludiam. Era mesmo felicidade.
A riqueza material, aquela que nos é vendida pelas televisões e pelas revistas, embrulhada pelas colónias, roupas e festas, esconde, muitas das vezes, depressões e infelicidades profundas.
Já repararam os dramas que nos são contados pelas queridas TV's e revistas cor de rosa de famosos e famosas que deviam, à partida, serem felizes como ninguém?
No meio de milhares, dois exemplos: Diana, a educadora de infância que virou princesa e morreu de forma dramática; Letícia, a jornalista que correu o mundo a contar histórias. Já se perguntaram onde pára o brilho dos olhos dela?
Ó Rosa, grite bem alto a estas gerações do rabanete e da colónia cara que dar umas boas gargalhadas e comer um arroz de frango ajuda a viver com felicidade em todos os lugares e em todas as posições...

Até um dia destes.