EDITORIAL

Armindo Veloso



Novo ciclo

Cerca de oitenta por cento dos portugueses que foram às urnas no dia cinco de Junho votaram no mesmo “programa de governo”. Sei que nestas eleições também havia, para muitos, um outro grande objectivo: mandar Sócrates embora. Nesse, votaram setenta e dois por cento. Sem dúvida. Se é certo que quem votou PS, PSD, e CDS, sabia que estes três partidos assinaram os documentos resultantes das negociações entre Portugal, União Europeia e FMI, também é certo que quem votou em todos, menos no PS, sabia que se Sócrates fosse derrotado não resistiria e bateria com a porta. Foi isso que aconteceu.
Começou uma nova era em Portugal: uma maioria clara no parlamento de centro direita acompanhada por um Presidente emanado da mesma área política.
Não há desculpas. Com estas condições só por si já não havia. Agora, tendo ainda como muleta a assinatura do PS no tal “programa de governo” que vai ser imposto aos portugueses, será muito mais fácil implementar as medidas que dizem tão necessárias.
Se houver, o que vai haver, divergências sobre algumas das reformas, duríssimas, descritas no documento, este será lido até à exaustão no parlamento.
Por isso, sendo estes próximos quatro anos decisivos para o futuro de Portugal e de nós todos, não tenho ideia de um programa de governo, neste caso com aspas, ser apoiado por oitenta por cento dos eleitores e respectivos eleitos.
Uma nota final. O discurso de despedida de José Sócrates foi para os mais desatentos maravilhoso. Como o seria, digo eu, se não tivesse sido escrito e lido no teleponto. Será que quando se fala com a alma numa situação dramática como foi o caso é necessário teleponto? Não acho.
Foi essa forma plástica de fazer política que deitou por terra um homem com qualidades mas que abusou sobremaneira da mentira e do certinho de mais.
Prefiro um Primeiro-Ministro que se engane e que até gagueje aqui e ali do que um autómato...

Até um dia destes.