EDITORIAL

Armindo Veloso



Vícios

O ser humano é um animal de vícios.
O povo di-lo com razão.
Há, no entanto, um vício quiçá dos que provocou mais destruição ao longo dos milénios, que habitualmente não é referido como tal. Refiro-me ao vício do poder.
À sombra do “Poder” somos capazes de tudo. Para o provar basta consultarmos, na diagonal, a história da humanidade.
Como não podia deixar de ser, nos tempos que vivemos esse vício também se faz notar ao virar da esquina.
Não será necessário referir os “Senhores” das ditaduras que ainda existem por esse mundo fora.
Falemos do poder exercido nas democracias. Na nossa democracia.
Quando José Sócrates foi eleito Primeiro-Ministro de Portugal começou por exercer o poder com liderança. Foi uma lufada de ar fresco num país então com um governo em pantanas. Referi-o neste espaço várias vezes.
José Sócrates começou a governar Portugal de uma forma tal que chegou a atingir mais de setenta por cento de aprovação junto dos portugueses.
Já numa fase menos boa, Sócrates foi reeleito. Aí, sem maioria absoluta.
Esquecendo-se que tinha maioria relativa, veio ao de cima o José Sócrates a exercer o poder sem lide-rança.
Avesso a negociações, as que houve foram sempre com a cara de outros, Sócrates cometeu um pecado mortal no chamado PEC IV.
Dizem muitos que o Primeiro-ministro provocou a crise para sair. Não sendo descabida essa hipótese, vou dar de barato que o Primeiro-ministro não é assim tão maquiavélico. O tal poder sem liderança levou-o ao ponto de ter elaborado, para Bruxelas ver, um plano de austeridade que obviamente deveria ser em primeiro lugar abordado, pelo menos, com o Parlamento e com o Presidente da República. Não colhe o argumento de ter que apresentar um plano na reunião em Bruxelas em tempo recorde, uma vez que se sabe que andaram três semanas a prepará-lo com uma equipa da Comissão, aqui no nosso país.
O poder com liderança foi-lhe, então, fundamental.
O poder sem liderança foi-lhe, agora, fatal.

Até um dia destes.