EDITORIAL

Armindo Veloso



DOIS EM UM

A moção de censura apresentada pelo Bloco de Esquerda ao governo teve quanto a mim duas intenções.
A primeira, depois de anos a fio a fazer uma oposição cerrada às políticas do governo com ataques recíprocos e frequentes entre Sócrates e Louçã nos debates quinzenais, o Bloco apoiou o mesmo candidato que o PS nas eleições presidenciais.
A estratégia, como se veio a verificar, foi um desastre para os dois partidos.
Assim sendo, depois da aposta falhada e de muitos comentadores terem considerado que essa aproximação do Bloco ao Partido Socialista foi o primeiro passo - e primeiro teste - a novos acordos futuros entre ambos com vista a constituírem uma possível coligação natural à esquerda como a que existe à direita entre o PSD e o PP, gorada essa estratégia, o Bloco de Esquerda com esta moção quis voltar à estaca anterior, ou seja, oposição clara e inequívoca ao governo de José Sócrates.
A segunda, ‘entalar’ o PSD de Passos Coelho.
É notório que Passos Coelho pensa que vai ser Primeiro-ministro de Portugal. Tem dúvidas é do ‘timing’ em que isso acontecerá.
Desta forma o Bloco de Esquerda, obrigou-o a definir-se e a tomar uma decisão, abstendo-se e não ficando muito bem na fotografia uma vez que o povão, distraído da política politiqueira, dificilmente compreenderá porque é que o PSD, dizendo tão mal do governo o mantém no poder.
O espanto de tantos quando o Bloco de Esquerda, antecipando-se ao PCP, declarou que apresentaria uma moção de censura ao governo terá tido estes, dois em um, objectivos.
Acho que os quadros do Bloco sabem muito bem que os “seus” 10% só continuarão a existir se continuar a ser um partido de combate capitalizando o eleitorado sem cor e de protesto.
Vem aí mais do mesmo. Só com mudança de cor.
Portugal só sairá do marasmo com uma coligação de pelo menos quatro anos entre o PSD e o PS que não tenha calculismos políticos e com um único objectivo: desenvolver o país.
A lógica do Primeiro-ministro ser do PS ou do PSD seria resolvida com o partido mais votado nas eleições. Foi essa a lógica com Mário Soares e Mota Pinto.
Velhos senhores.

Até um dia destes.