EDITORIAL

Armindo Veloso




(De)formação

As televisões generalistas põem-me os nervos em franja.
Quantas vezes estamos entusiasmados com um debate, um comentário interessante ou com uma entrevista das boas e o pivot desse espaço, forçado pelo ‘comandante’ da régie, termina abruptamente dizendo que o tempo em televisão é o que é e ponto final.
Ao contrário desta guilhotina em produtos que valem a pena, verificamos que os telejornais são alargados sem qualquer critério com grandes espaços temporais dedicados a comentários e treinos de clubes de futebol - Benfica, Porto e Sporting, pois claro - treinos esses perfeitamente inócuos acompanhados por comentários de “analfabetos funcionais” que desempenham lugares de treinadores ou dirigentes desportivos.
O entretenimento e o futebol fazem parte da vida das pessoas e em alturas de crise mais necessários são. Não tenho nada contra. No entanto, terem uma guilhotina sempre afiada para assuntos importantes na vida de todos nós e darem dez ou quinze minutos de uma conferência de imprensa de um qualquer senhor da bola há uma grande diferença.
Na publicidade passa-se o mesmo. Quando se produzem campanhas de sensibilização como a prevenção rodoviária, spot's de grande interesse público, são inseridos nas calendas ou então no segundo canal, cujos espectadores são os que menos precisam de ser elucidados.
Então esse tipo de alertas, gratuito ou não, não de-veriam ser encaixados nas novelas ou no futebol, espaço esse visto por milhões de pessoas?
Ou essas mensagens são só para as estatísticas dos institutos então criados e não têm como objectivo efeitos práticos?
Se a televisão só serve para deformar mentalidades estamos feitos.
Uma nota final. A maior parte dos colegas de ERASMUS do meu filho na Lituânia eram de países da Europa mais desenvolvida: Alemanha, Inglaterra, França, etc.
Os alemães, por exemplo, têm doze anos de ensino obrigatório mais um de serviços comunitários.
A um dos colegas alemães coube-lhe a tarefa de durante um ano lectivo dar apoio num lar de terceira idade com todos os serviços inerentes. Mudou milhares de vezes a fralda a velhinhos.
Como a juventude cresce com este 13.º ano.
Nós, os portugueses, com o ensino/formação que damos aos nossos filhos ficaremos os eternos atarracados.
Até um dia destes.