EDITORIAL
Armindo Veloso
Até quando?
No chamado mundo desenvolvido, do qual Portugal faz parte, as pessoas têm rendimentos absurdamente desiguais pelas mais variadas razões.
Basta lembrar os rendimentos salariais - para falar só desses, omitindo os prémios e afins - de alguns gestores públicos e privados que chegam a auferir dezenas ou até centenas de milhar de euros mensais enquanto o salário médio ronda os mil euros e o mínimo está longe dos quinhentos. Estes factos atiram-nos para os últimos lugares nos países desenvolvidos no que respeita à distribuição da riqueza.
Mesmo assim, por muito absurdo e chocante que isso seja e sabendo nós, como sabemos, que há bastante pobreza explícita e encapotada em Portugal, não chegamos, nem de perto nem de longe, a atingir os escândalos que acontecem nos países pobres ou mesmo paupérrimos. Nesses, há uma imensidão de miseráveis que buscam alimento nas lixeiras coabitando com cães também eles famintos e com ratos, quando, ali ao lado, há uma ínfima minoria que vive majestosamente.
Numa reportagem que li há tempos na revista Visão, dizia-se que mais de trinta por cento dos artigos de luxo que se vendem em Portugal são comprados por angolanos. Relógios exclusivos que custam novecentos mil euros cada, não me enganei, novecentos mil euros cada(!) e senhoras que chegam a viajar de Luanda para Lisboa só para irem ao cabeleireiro, não me enganei, ao cabeleireiro!
Quando lemos coisas destas ficamos sem palavras.
O que leva o ser humano a ser tão repugnantemente injusto?! Como é possível ver os povos que foram mais sacrificados e até escravizados ao longo dos tempos serem hoje os mais injustos e contraditórios? Pense-mos nas Nações de leste onde se criaram fortunas incalculáveis do dia para a noite. Ou na China e na Índia onde centenas de milhões agonizam enquanto milhares jogam fortunas no casino.
Há uma pergunta que faço a mim próprio muitas vezes: No ocidente ainda vá que não vá. Agora, nesses países o que fará com que o povo não se revolte? Não acredito que seja só pela mão pesada dos Estados. O povo, todo ele, sabe que tem uma força que não há regime que o controle.
Até quando aguentará?