Armindo Veloso




IGREJA DE SANDÁLIAS

Muitas das vezes, emitir opiniões sobre determinados temas torna-se num risco acrescido, quer por falta de conhecimentos bastantes quer por formatações culturais adquiridas.
A Igreja é claramente um deles.
A visita do Papa Bento XVI tem provocado um entusiasmo que está muito aquém das anteriores visitas papais, quer do Papa Paulo VI – que não sendo um Papa empático provocou uma grande euforia no Portugal então rural – seja das três visitas de João Paulo II – esse sim, fruto da sua empatia e do seu poder mediático pôs o mundo aos seus pés.
Confesso que a figura de Bento XVI não me provoca nenhum entusiasmo. Quem sou eu para avaliar um Papa com um passado de pensador e teólogo com créditos firmadíssimos? Mas não é isso que me traz cá. Sem entrar em assuntos polémicos que nos levariam muito longe sobre a história da Igreja, tanto fossem assuntos milenares, seculares, ou actuais, gostaria que a visita de Bento XVI ficasse na história não pelos SIS, sistema de investigação e segurança, investigarem os fiéis que comungam pela mão do próprio; não pelos estilhaços do assunto quente: pedofilia; não pelo número de seguranças envolvidos na visita; não pelos mísseis prontinhos(!); não pelas fragatas no mar da Palha; não pelos microfones em ouro; não pela mega-logística; não pelas multidões; não pelo beija-mão hipócrita de quem nunca ligou nada à Igreja; não pelas varandas alugadas a preço de ouro para fazer o melhor “boneco”; não pela ostentação que envolve a visita do chefe de Estado e líder católico; não.
O que gostaria é que o Papa olhasse mais de frente – característica que talvez por razões fisionómicas não tem — o mundo e que de uma forma não dissimulada abrisse a Igreja aos tempos modernos em todo o ser explendor.
No fundo, que a palavra de Jesus Cristo nos chegasse de sandálias e não de sapatos feitos na sapataria mais cara do mundo.
Como eu gostaria!

Até um dia destes.