Armindo Veloso




COMPLEXOS INTRÍNSECOS

Há tempos atrás via num dos muitos ‘flashes’ informativos das televisões a apresentação de um novo jogador do Sporting de nacionalidade espanhola. Depois de dissertar num fluente espanhol sobre as maravilhas de vir jogar para o Sporting — coitados, é um discurso sempre igual vão para que clube forem —, foi a vez do presidente do Sporting dizer de sua justiça acerca do novo herói sportinguista. Numa das frases que proferiu, em vez de “nós” disse “nosotros”. Há pequenas coisas na vida que, pelo seu significado profundo, se transformam em coisas essenciais. Eu, que nem sou nacionalista, fiquei chocado com aquele grande sinal do complexo português. Vemos excelentes jogadores a trabalhar em Espanha, cujo expoente máximo, é o Cristiano Ronaldo chegar à primeira conferência de imprensa em Espanha com a lição bem estudada, num espanhol que por vezes surpreende. Os espanhóis não brincam. Sabem que a impressão transmitida por essas “caixas” mediáticas é fundamental para a imagem de um grande país como Espanha. Logo, exigem! Quanto a nós, apregoamos aos sete ventos que somos uma Nação com nove séculos que já fomos “donos do mundo” com os espanhóis, etc., etc., mas eles praticam e nós não. Já que não os querem educar logo na primeira entrevista ou intervenção que fazem em Portugal para os media, o que é que, justifica que alguns jogadores e treinadores espanhois estejam em Portugal dois ou três anos e continuem a falar em espanhol sem o mínimo esforço para se adaptarem à nossa língua? Será que não podiam copiar o Rei, grande senhor, que fruto do tempo que passou em Portugal aprendeu um português de grande qualidade que faz questão de utilizar quando cá vem? Já agora outra situação caricata: quando o Rei, D. Juan Carlos, esteve na Madeira com o nosso Presidente da República, foi de morrer a rir ver a nossa jornalista a fazer um esforço para falar em “portunhol” e o rei, impávido e sereno, a responder em Português. Não, não foi só no início, foi durante a entrevista toda! A jornalista não deu pela figura ridícula que fez. É com estes pequenos, grandes, sinais que uma Nação se afirma. Não é andarmos a apregoar, bacoca mente, da boca para fora que somos isto e aquilo mas depois não praticamos os mínimos. Um dia destes, os nossos antepassados, que tanto fizeram para afirmar Portugal, ainda nos vão aparecer todos em espírito...
Até um dia destes.