EDITORIAL

Armindo Veloso




Piscinas e Livros

Tenho um amigo que tem uma piscina interior em casa e é raro dar-lhe uso.
Peguei neste exemplo porque funciona como uma luva para metáfora acerca de Portugal.
Os nossos governantes, desde os primeiros ministros aos presidentes de Junta, salvo raras excepções, adoram fazer obras materiais esquecendo-se que as verdadeiras obras que perduram nos tempos são as que educam, ensinam, orientam e tratam as populações.
Peguemos em exemplos.
Auto-estradas, algumas são necessárias, sem nenhuma dúvida, para rasgarem os territórios tornando as populações mais próximas umas das outras. Mas, serão todas assim tão precisas? Não haverá um meio termo entre as estradas ultrapassadas e obsoletas e as auto-estradas agressivas? Claro que há e temos exemplos. Quantas auto-estradas estão às moscas por esse país fora?
Transporte ferroviário de alta velocidade, sendo certo que a ligação de Lisboa ao centro da Europa tem toda a pertinência, será necessário fazer linhas internas para quando os comboios acelerarem o que devem, começarem logo a travar para o fim de um percurso intermédio?
Aeroporto, não seria mais razoável adaptar um segundo aeroporto, já existente, no Montijo, por exemplo, que nos resolvia durante décadas o problema em vez da obra faraónica em Alcochete?
Havia mais exemplos para dar, sendo estes os maiores e os mais falados.
Então um país pobre como o nosso não devia canalizar a maioria dos recursos financeiros para um ensino de maior qualidade, uma saúde de maior qualidade, uma justiça mais eficiente e acessível a todos e para um apoio social muito maior e mais presente do que aquele que existe, principalmente para os mais idosos?
Dir-me-ão que aquelas obras são feitas com os fundos comunitários. Uma ova!... Grande parte é com os nossos impostos e se é certo que para aproveitarmos aqueles milhões temos de as fazer, também é certo que pode ser a esmola que mata o pobre. Há tantos casos desses nas empresas...
Os governos com visão de futuro perdem muitas vezes as eleições porque não fazem as tais obras, mas deixam os países como nações mais desenvolvidas.
As nações desenvolvidas podem não ter a tal piscina interior mas têm, certamente, um cantinho lá em casa para uns livritos...
Até um dia destes.