EDITORIAL

Armindo Veloso




ABAIXO DE BRAGA

Todos nós nos lembramos de, quando éramos crianças, não dormirmos de noite ao avizinhar-se um passeio da escola ou uma excursão qualquer.
Era um frenesim tal que, por muitas voltas que déssemos, lá estavam as insónias.
Tenho reparado que os passeios da terceira idade também provocam um preenchimento de tempo aos idosos, de forma diferente, como não podia deixar de ser, que reputo de importantíssimo.
Se três ou quatro vezes por ano os idosos de uma freguesia, ou de outra comunidade, fizerem o seu passeiozito, seja de cariz religioso ou só para beber umas pingas numa quinta turística, a façanha começa nas inscrições e só termina uns dias depois da borga, quando as conversas serenam. Há ali uma adrenalina que naquelas idades os ajuda — e de que maneira! — a ocuparem o tempo, principalmente aos que vivem mais sozinhos.
Senhores autarcas: chamem-lhes charme; chamem-lhes caridade; chamem-lhes campanha eleitoral, chamem-lhes o que quiserem mas façam cada vez mais esses passeios/convívio com os idosos.
As criancinhas, porque são pequeninas e como sabemos tudo o que é pequenino tem graça, têm muita gente a brincar com elas. Agora os velhinhos, esses, ninguém lhes pega. Quantos meus amigos, quantos, vivem um dia em cima do outro entre uma refeição sabe Deus como e uma lucerna de sol esquinada no Verão ou uma lareira meia apagada no Inverno à espera que Ele os chame.
A terceira idade é claramente o maior flagelo social dos tempos modernos. Havendo alguns velhos e velhas sovinas e ricos, a maioria são pobres ou remediados que, sofrendo pela escassez de bens materiais, sofrem muito mais pela falta de atenção e carinho.
Senhores presidentes e respectivas equipas, se investirem algum dinheiro público nestes convívios, invistam! Têm, não tenham dúvidas, muita gente a pensar assim e têm o director deste velhinho jornal que vos apoia incondicionalmente nessa matéria.
Se vos criticarem por isso mandem-nos abaixo de Braga.

Até um dia destes.