EDITORIAL

Armindo Veloso




ANÉIS E DEDOS

“Roubar, Roubei.
A fome não tem Lei,
Quando tiver dinheiro pagarei”

Contou-me o meu Avô materno que estes dizeres apareceram num certo moinho, escritos num papel rudimentar colocado onde deviam estar sacos de farinha.
Vivia-se a grande depressão que havia de dar origem à segunda guerra mundial.
De facto, a fome não tem lei e é aqui neste ponto que os governos devem concentrar todas as suas energias.
Tudo o resto é acessório.
Um povo com fome e sem esperança no futuro transforma-se mais tarde ou mais cedo numa bomba relógio.
Podemos falar de liberdade ou democracia, sem dúvida valores fundamentais, mas eles transformam-se em simples retórica se o povo a quem se dirige for um povo com fome.
Não sei porquê mas sinto uma brisa malfazeja.
Já há pessoas a passar fome em Portugal. Se nos pequenos centros e nas aldeias ainda vai havendo o es-sencial, através da agricultura de subsistência dos próprios ou familiares, nos grandes centros e principalmente nos subúrbios destes onde se concentram as grandes massas de operariado fabril e imigrantes vindos das mais variadas origens, as coisas estão muito complicadas.
O desemprego em crescendo galopante que todos os dias nos entra pela casa adentro via televisão é arre-piante. Se a economia, com outras regras, não começar a arrancar haverá uma convulsão social que não se sabe onde poderá chegar.
A gestão que me ensinaram é aquela que reza que as empresas se deverão adaptar às suas necessidades tendo equipas de trabalho dinâmicas, jovens, motivadas e, claro está, em número equilibrado.
Tudo isto é muito bonito. O problema é que um computador manda-se para a reciclagem em menos de um fósforo. Quando se trata de seres humanos e se conhece as suas vidas e o que está para além dos olhos de cada um: Despedir é um drama.
Vão-se os anéis e fiquem os dedos.
O problema é saber, perante determinadas circuns-tâncias, o que são os anéis e o que são os dedos.
É uma pergunta de resposta difícil no contexto que lhe quero dar.

Até um dia destes.