Armindo Veloso

ROUBO MAS FAÇO
Foi popular há alguns anos atrás uma célebre campanha política levada a cabo por um governador de um pequeno Estado do interior do Brasil. Pressionado por um candidato da oposição, forte, a sua campanha teve como assinatura “Roubo mas Faço”. O choque foi geral e esta campanha ainda hoje é lembrada em muitas reuniões de comunicação política. Sei que o facto de um candidato assumir que rouba poderia, e deveria, dar azo a outros desenvolvimentos em sede diferente. No entanto, para o caso, não entrarei por aí. O que me interessa é partilhar com os meus leitores  quão “sui generis” são as campanhas políticas e os eleitores tocados por elas. Não é que o homem ganhou novamente as eleições com aquele slogan?!... Só vejo um motivo para tal ter acontecido. O candidato fazia, de facto, obra. E, sendo assim, os eleitores até lhe premiaram a frontalidade. A nossa política e os nossos políticos, desde os da paróquia até aos nacionais, estudam e voltam a estudar mensagens que soam a oco por todo o lado. Se tomarmos como exemplo o “Yes, we can” — sim, nós podemos — , de Obama, chegamos facilmente à conclusão que é uma frase com muita força e que galvaniza todo um povo. Já algumas nossas que vemos por aqui e por aí, prometendo mudanças e verdades, ninguém vai na cantiga. Alguém acredita?... Ainda gostava de ver um político subir ao palanque, divulgar o seu programa e dizer, olhos nos olhos, aos eleitores que não quer os votos, no sentido de não fazer nada para os conseguir, de quem não estiver com o seu programa; não querer os votos de grupos que o condicionarão no futuro se o apoiarem; não querer os votos de algumas corjas que por aí há; não querer os votos dos que só olham para a sua rua; não querer os votos de quem só pense nos “nossos”. Ganhando as eleições dessa forma, ninguém o impediria de cumprir o seu programa. Dir-me-ão, ninguém ganharia assim as eleições. Não concordo. Provavelmente, seria a forma mais fácil de as ganhar. Os eleitores que, lembrem-se, são também pessoas com a cabecinha em cima dos ombros, estão fartos de frases inócuas e, muitas das vezes, de candidatos fantoches.
Até um dia destes.