EDITORIAL

Armindo Veloso



ELEIÇÕES
Muito se tem escrito acerca do relacionamento entre as duas principais figuras do país, Presidente da República e Primeiro Ministro, e possíveis desaguisados que poderão acontecer entre eles.
Como sabemos, a comunicação social adora sangue, entre aspas e sem elas, e, se não o tiver, inventa-o.
Cavaco Silva tem cumprido em absoluto aquilo que prometeu na tomada de posse.
Sócrates, se não fosse aquela lamentável cedência ao sectarismo de algumas facções do seu partido e ao “reizinho” dos Açores que, certamente, o obrigou a cumprir uma promessa que terá sido feita antes das eleições regionais, também se tem portado à altura no relacionamento institucional entre o governo e a presidência.
Só sonha com vetos infundados quem não conhece minimamente o carácter do professor Cavaco Silva.
Lembremos que o Presidente da República que mais vetou nos primeiros três anos de mandato foi Jorge Sam-paio com Guterres a Primeiro Ministro. Mas, como eram do mesmo partido, não dava “pica” nos média.
Agora, com Cavaco, estadista amado por uns e odiado por outros, há todos os condimentos para medir ao milímetro tudo e nada para a tal notícia picante.
Posto isto, sendo Cavaco um homem de princípios, que nunca se vingará por vingar, já tenho dúvidas que uma maldadezinha seja de excluir. O destino deu-lhe uma possibilidade numa bandeja de prata.
Sendo o governo a marcar as eleições autárquicas e o presidente a marcar as legislativas, Cavaco tem mais duas semanas que Sócrates para as marcar. Assim, se Sócrates marcar por exemplo as autárquicas para 4 de Outubro, Cavaco pode marcar as legislativas para o mesmo dia sem que nada o impeça. Pelo contrário, se a explicação for dada com o argumento de contenção de custos, no sentido lato, já que o custo de umas eleições não se resume ao que se vê, o povo aplaudiria.
É claro que o PS e o Primeiro Ministro espumariam de raiva.
Terão razão para isso? Nenhuma! O povo português já provou que sabe muito bem separar as coisas.
Nos Estados Unidos, por exemplo, os eleitores votam duas dezenas de assuntos no mesmo dia desde para a presidência da República até ao referendo do canil local.
Um povo tem que ser tratado como adulto. De outra forma, nunca mais cresce.
Que bom seria, se fosse possível sem dissolução do Parlamento, hipótese fora de questão para quem conhece o presidente, que se pudesse fazer em Junho os três actos eleitorais deste ano. Os senhores que nos tratam como ignorantes veriam na aldeia mais recôndita resultados bem diferentes entre partidos dependendo das eleições serem Europeias, Legislativas ou Autárquicas.
Ninguém sairia prejudicado. Haveria um ganhador, o País.

Até um dia destes.