EDITORIAL

Armindo Veloso



O ideal e o possível
Tem-se dito à boca cheia que a reforma administrativa em curso devia ser feita de baixo para cima e nunca de cima para baixo, como está a acontecer.
É bom de ver que quem o diz gostaria que os executivos de cada junta de freguesia discutissem civilizada e construtivamente com as juntas vizinhas uma fórmula para a sua agregação dentro de parâmetros previamente definidos e tendo sempre em conta o interesse das populações.
Que bom seria se fosse assim fácil!
Alguém acha possível que a grande maioria dos presidentes de junta levariam a bom porto uma proposta digna desse nome? Se há desavenças por a placa da freguesia estar dois metros para aqui ou para acolá, como era possível construir uma reforma administrativa, a sério, de baixo para cima?
A maioria dos nossos presidentes de junta ainda se lembram das guerras à pedrada, sem aspas, que havia depois de um dia de escola entre crianças de uma ou de outra freguesia. Algumas dessas por terem poucos eleitores ainda há pouco tempo elegiam os seus representantes em plenário mas se lhes falar em juntar-se ‘cai o carmo e a trindade’.
Para se fazer uma reforma deste tipo, que ainda vai “beber” há cento e cinquenta anos atrás e às antigas paróquias, só mesmo com leis da República. Com elas, e uma vez que não poderão eleger ninguém se não cumprirem, ainda acredito. De outra forma, de boas intenções está o inferno cheio. É pena mas é a verdade.
Cá por casa fiquei orgulhoso quando me disseram que se tinha criado uma comissão para, serenamente, discutir e definir esse processo. Pura ilusão. Afinal, deram o dito por não dito, talvez para não ficarem com o ónus junto das populações, e desta forma provavelmente cairemos na “vala comum” com uma comissão externa que com régua e esquadro liderará o processo.
Os interesses partidários mais uma vez a imporem-se às reformas necessárias.
Que pena.

Até um dia destes.