“Os nossos utentes
não nos dão nada”

Domingos Pereira da Silva preside há Associação de Apoio aos Deficientes Visuais do Distrito de Braga (AADVDB) desde 1996. Amanhã, sábado, toma posse para um novo mandato de três anos. O ‘Maria da Fonte’ conversou com Domingos Silva e ficou a conhecer os problemas, os desafios, as actividades e os projectos que o presidente Domingos Silva gostaria de ver concretizados.
Maria da Fonte - Depois de 14 anos à frente dos destinos da associação, o que o levou a abraçar de novo o desafio?
Domingos Silva – Tive algumas «pressões» de amigos meus que me disseram que não podia abandonar um projecto destes e, sobretudo, no momento em que o mesmo estava, uma vez que vêm aí etapas muito difíceis. Por todo o lado, a crise aperta e nas instituições de solidariedade social também vai apertar um bocadinho. Resolvi avançar porque não houve candidatos e as pessoas não quiseram fazer nenhuma candidatura, o que é sinal de que as pessoas reconhecem o trabalho que nós temos feito nesta instituição. Houve uma altura, e vou ser muito claro e objectivo, em que pensei deixar a instituição porque queria ligar-me a outros projectos, mas algo me disse que ainda era cedo para eu deixar a associação. Já que fui eu que a criei, já que fui eu que estive nos momentos difíceis dela e agora estou também nos momentos bons da associação, devo continuar mais algum tempo aqui. Foram essas as razões e também o facto de alguns amigos me incentivarem a não deixar este projecto, para que este projecto não morresse. Penso que o projecto não morria mas levava, se calhar, um abalo grande porque também não é fácil dirigir uma instituição destas. Depois, também gosto de fazer aquilo que faço, gosto de ajudar os invisuais, gosto de ajudar toda a gente, dentro das minhas possibilidades e, por isso, fui abraçando mais três anos de mandato porque quero continuar esta obra, quero aumentá-la ainda mais pois há projectos que gostaria de ver concretizados.

MF – Que projectos são esses?
DS – O grande objectivo é a manutenção da instituição. Em termos financeiros, a associação neste momento não está mal mas também não está bem. Está ela por ela. Anualmente, são precisos cerca de 70 a 80 mil euros. A grande dificuldade é que só temos acordo para 30 utentes e neste momento estamos a atender 40 a 45 utentes na instituição. Há algumas solicitações que nós não podemos responder, ou porque não temos transportes ou porque não temos meios para o fazer.

MF – Já foi pedida a revisão desse acordo?
DS – O acordo está a ser negociado e penso que há um interesse grande de todas as partes em fazer com que algo aconteça. Não sei o quê mas penso que, a partir do próximo ano, temos condições para uma negociação.

MF – Voltando aos projectos, o que gostaria de ver concretizado?
DS – Como já referi há tempos, a Casa Residencial não é um projecto fácil. Pelo contrário, é um projecto muito difícil e eu tenho que saber naquilo que me meto porque a associação deu-me algumas lições de vida. Toda a gente diz que ajuda mas, quando é preciso alguma coisa, o presidente da associação é que tem que dar a cara e andar com as coisas. Por isso, temos que ter muita consciência daquilo que fazemos e da gestão que temos que ter porque a nossa gestão aqui na associação é controlada ao cêntimo e tem que ser mesmo assim porque nós recebemos 80% da Segurança Social e temos que cobrir os restantes 20%. Os nossos utentes não nos dão nada, só pagam a quota e, às vezes, o transporte das consultas. O resto, é tudo suportado por nós. Por isso, não é um trabalho fácil...