Armindo Veloso




COMPAIXÕES

Uma senhora foi condenada a três anos de prisão efectiva por um colectivo de juízes, em Lisboa, por ter atropelado mortalmente duas pessoas e ferindo gravemente uma terceira numa passadeira no Terreiro do Paço.
São este tipo de notícias que nos vão animando.
A senhora, apesar de ter contratado um advogado competente – sabemos que há uma justiça para ricos e outra para pobres, a começar pelo poder económico que se tem para contratar um advogado – não teve hipóteses.
Embora não tenha transitado em julgado uma vez que a defesa recorreu, duvido que perante o acórdão em causa haja alteração da pena.
No final do acórdão dizia-se que a senhora em questão não mostrou, durante o julgamento, a mínima atitude de compaixão pelas vítimas e pelos seus familiares.
A defesa alegou que a justiça não se pode reger por exemplos. Entendo. O que é certo é que se a justiça não se deve reger por exemplos ela também tem implicitamente um importantíssimo efeito pedagógico na sociedade. Sem bodes expiatórios, claro.
No caso em apreço, tem de haver mão pesada para quem não tem o mínimo cuidado com a bomba-relógio que tem em mãos que é o carro.
A negligência grosseira, muitas das vezes transformada em homicídios involuntários, deve ser penalizada exemplarmente.
Sendo certo que a maioria de nós já cometeu as suas falhas na condução, temos, de uma vez por todas, meter na cabeça a responsabilidade acrescida que investimos ao sentar-nos ao volante.
A defesa alegou que a senhora circulava a cinquenta quilómetros por hora. Os médicos peritos em medicina legal, perante os exames aos cadáveres e seu desmembramento(!) garantiram que a viatura circularia entre os 110 e os 120 quilómetros/hora. Recorde-se: no Terreiro do Paço!
Tenha paciência, minha senhora, eu também não tenho compaixão por si. Três anos de cadeia não são nada comparados com os danos que provocou.

Até um dia destes.