Armindo Veloso




A PROVA DOS NOVE

Após a consolidação do regime democrático em Portugal, a partir dos anos oitenta, tem havido uma discussão permanente nos meios de comunicação social e nas tertúlias de café acerca de se saber se Portugal é mais à esquerda ou mais à direita.
Pela minha parte, detesto este tipo de chancela. As duas tendências têm virtudes e defeitos e julgo que esta nos padrões culturais a raiz verdadeira de se chamar alguém de direita ou de esquerda.
Quando Cavaco Silva teve as duas únicas maiorias absolutas qualificadas, mais de cinquenta por cento de votos, em eleições legislativas, dizia-se que Portugal era maioritariamente de direita. Quando, na mesma altura, Portugal votou em Soares ou em Sampaio dizia-se que Portugal era maioritariamente de esquerda. Serão correctas estas conclusões? Na minha forma de ver, são muito precipitadas.
Como consumidor assíduo dos canais de informação em televisão, já estou farto de ouvir os fazedores de opinião, ou pretendentes, a opinarem sobre as putativas eleições presidenciais a quase um ano de distância.
Dizem uns que Portugal é sociologicamente maioritário de esquerda e que Manuel Alegre, um homem de esquerda, tem grandes hipóteses de ser eleito.
Por seu lado, outros dizem que Cavaco Silva entra no eleitorado do centro e que ganhará.
Eu acho que, ou não conheço nada do meu país, ou Cavaco ganhará destacadíssimo as eleições presidenciais. Cá estarei para dar a mão à palmatória se o futuro não me der razão.
Manuel Alegre e os “alegristas” iludiram-se com o milhão e tal de votos.
Há uma pergunta que eu julgava que nunca teria resposta e vai ter: Qual seria a diferença entre ambos se tivesse havido segunda volta?
Uma vez que se vão defrontar, tudo o indica, nas próximas presidenciais tê-la-emos — Embora alguns factores importantes se tenham alterado, a favor de Manuel Alegre, como é o caso do apoio expresso, que a seu tempo virá, do PS.
Não sendo Cavaco um homem de direita na política corrente, que é o que interessa ao comum eleitor, e sendo Alegre um homem de esquerda romântica, será um luxo acompanharmos as próximas eleições presiden-ciais. Será a prova dos nove.

P.S.: Depois deste texto escrito apareceu a candidatura do reputadíssimo médico e presidente da AMI, Fernando Nobre. Não sei se a candidatura vai até ao fim ou não. Uma coisa eu sei: Mário Soares não perdoa...
Até um dia destes.