Armindo Veloso




MENTIR SEM NECESSIDADE

A mentira faz parte do ser humano.
A prestigiadíssima revista brasileira “Veja” publicou um estudo acerca de um mundo onde a verdade fosse um valor absoluto. Resultado: esse mundo era ingovernável.
De facto, nas mais pequenas coisas dá para ver o que seria. Já alguém imaginou uma mãe a perguntar a opinião sobre o seu bebé e nós respondermos com um rotundo ‘é feio!’; ou alguém nos convidar para jantar em sua casa e a nossa opinião acerca da comida ser: “está horrível!”.
Estes pequenos e comezinhos exemplos servem para se ver quão correcto está aquele estudo se o absolutizarmos. É certo que a mentirinha faz parte de nós. Já não dá para entender porque se mente com os dentes todos acerca de coisas importantes. E, mais grave, quando não há necessidade disso.
Vem isto a propósito dos nossos políticos, a começar pelo primeiro-ministro, mentirem de uma forma despudorada. Não entrando em assuntos polémicos, sem provas, como os que têm alimentado os media nos últimos meses, peguemos no PEC, Programa de Estabilidade e Crescimento.
Diz o nosso primeiro-ministro que, com excepção dos escalões de IRS mais altos, (leia-se a partir dos cento e cinquenta mil euros ano), passam a ser tributados a 45% em vez dos 42 até aqui, não há aumento de impostos. Ai não?! Então um contribuinte que, com as deduções normais de saúde e educação, recebia, devolvidos, por exemplo mil euros, e a partir deste PEC passa a receber, rigorosamente nas mesmas circunstâncias, 800 euros, não paga mais duzentos euros por ano ao fisco?! O que nos interessa a nós os termos técnicos?! Facto é facto!
Vejamos; se é necessário, e é, fazer um PEC rigoroso para o nosso bem futuro e para responder às exigências da União Europeia, não seria melhor dizer aos portugueses a verdade sobre a nossa situação?
Não ficaríamos todos muito mais motivados e conformados? Pela minha parte e reconhecendo muitas características boas a José Sócrates, fico com a pulga atrás da orelha acerca das tais “atoardas”.
Quem faz um cesto, faz um cento...
Até um dia destes.