Armindo Veloso




OS INTOCÁVEIS

Luís Filipe Meneses é uma personalidade interessante. Muitas vezes não concordo com ele mas outras reconheço-lhe um poder de análise e frontalidade bem difíceis de ombrear. Dizia ele, há tempos, que aos vencedores perdoa-se tudo ou quase tudo. Para ilustrar o que dizia, lembrou – não inocentemente uma vez que era aí que queria chegar — as ferroadas com que Cavaco Silva “presenteou” o seu partido seja no tempo de Fernando Nogueira quando o desdisse antes das legislativas negando que seria candidato presidencial; seja quando mandou retirar a sua cara do cartaz do PSD com Santana Lopes a candidato a primeiro ministro; seja, ainda, mais recentemente, quando armou uma grande confusão sobre as escutas semanas antes das últimas eleições legislativas. Dizia Filipe Meneses que uma vez que Cavaco Silva tinha dado as maiores vitórias que há memória ao PSD ninguém o afrontava, mesmo discordando dele profundamente, porque ele era um vencedor. Para ilustrar o que dizia, comparava-o ao Ronaldo que, sendo o melhor do mundo, pode falhar golos de baliza aberta que toda a gente lhe perdoa não se passando o mesmo com outros jogadores, quem sabe, mais esforçados. Peguei nestes factos porque me parece que, com o nosso Saramago, se passa tudo isto elevado a uma grande potência. José Saramago, depois de ter recebido o prémio Nobel da literatura, transformou-se numa das pessoas que menos admiro, paradoxalmente, em Portugal. José Saramago, grande escritor, quem sou eu para duvidar, auto promoveu-se a um lugar de intocável, não sei se catalizado por Pilar Del Rio..., que se dá ao desplante de ofender, insultar e até vociferar. Exemplos?: ofendeu o nosso Presidente da República dizendo que, “enquanto esse senhor for presidente”, não participava em actos públicos em Portugal. Insultou um senhor que, quer ele queira quer não, quer nós gostemos dele ou não, é primeiro ministro de Itália escolhido pelo povo italiano três vezes, e não me consta que o povo italiano seja mais burro do que o espanhol..., de uma forma que até gente de esquerda, a sério, achou mal. Vociferou sobre a Bíblia – um livro “ridículo” comparado com os seus “best-sellers”, pois claro — que apesar de eu não ter conhecimentos capazes de a abordar, nem ao de leve, merece, a Obra, e merecemos, todos nós, que José Saramago tenha mais respeito.
Até um dia destes.