HÁ 200 ANOS — a guerra mais terrível da nossa história
Do Pinheiro até Covelas

A população da freguesia de Covelas evocou Domingo a batalha de Carvalho d'Este, um dos momentos mais dramáticos das invasões francesas que, durante seis anos, deixaram quase 200 mil mortos em Portugal, a nossa indústria e agricultura destruídas e milhares de vagabundos por todo o território, conforme sublinhou o dr. Jorge Gomes, na palestra que assinalou a sessão solene. "Foi a guerra mais terrível que Portugal sofreu dentro das suas fronteiras" com 200 mil mortos em seis anos. A Guerra colonial — durante 13 anos — causou seis mil mortos entre 10 mil soldados.

EXPOSIÇÃO ITINERANTE

Num auditório cheio, a sessão realizada na sede de Junta de Covelas constituiu uma homenagem à memória dos milhares de bracarenses e povoenses que deram a sua vida na principal batalha antes da conquista de Braga, junto ao campo de futebol.
A sessão comemorativa incluiu o hastear das bandeiras, ao som da banda dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Lanhoso, seguindo-se o descerramento de uma placa que evoca a bata-lha da Serra do Carvalho e a inauguração de uma exposição sobre aquela batalha no contexto da segunda invasão francesa que vai visitar todo o concelho.
À palestra sobre a segunda invasão gaulesa pelo dr. Jorge Gomes assistiram, entre outras personalidades, os presidentes da Câmara e Assembleia Municipais da Póvoa de Lanhoso, o presidente da Junta de Freguesia de Covelas, Jaime Oliveira, principal dinamizador desta iniciativa, o Padre António Rodrigues Couto, bem como a vereadora Fátima Moreira e o comandante dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Lanhoso e candidato do PS às próximas eleições municipais, António Lourenço.
Jorge Gomes proporcionou aos presentes uma "magnífica lição de história" que incluiu os antecedentes, as invasões e as consequências da chamada guerra peninsular, para utilizar a expressão final do presidente da Câmara, Manuel Baptista. O autarca, concluiu que esta sessão "contribuiu para reforçar o nosso orgulho de ser português e povoense", tendo em conta a forma heróica como os nossos antepassados defenderam e protegeram esta terra.

PAPEL DOS PADRES

Depois de descrever a primeira invasão, a fuga da família real para o Brasil, a destruição e desorganização do exército num país que ficou sem Marinha e Cavalaria, Jorge Gomes destacou o papel do clero na resistência aos franceses, não só porque eram contra a Revolução Francesa mas sobretudo porque perdiam dez por cento de tudo quanto era produzido pelos agricultores. Jorge Gomes mencionou o nome dos padres António To-más da Cunha e Joaquim Pereira, entre os que morreram na Batalha de Braga, além de muitos padres Oratorianos.
No Porto, por exemplo, existia um batalhão constituído só por 200 padres que foram todos mortos.
Depois da retirada dos franceses, em Agosto de 1808, com os sinos de todo o país a tocar em festa, os portugueses pensaram que os franceses não voltavam. Puro engano, depois de Soult vencer na Corunha e preparar a segunda invasão, por Valença em direcção ao Porto.
Sem marinha e exército, com as armas de caça todas interditas desde Dezembro de 1807, os conventos eram obrigados a alimentar o nosso exército, como aconteceu em Braga com Convento da Graça cujas freiras tinham de alimentar diariamente cem soldados com água, luz e sal. Não havia cavalos nem armas nem quartéis e os melhores oficiais portugueses tinham sido levados para França. "Tudo o que cheirasse a Liberal via a casa incendiada e era morto" — assegura Jorge Gomes, destacando que "em Braga foi uma mortandade tremenda".
Em Janeiro de 1808, aquele que era uma dos melhores estrategas militares de sempre, o Marechal Soult, conquista a Galiza, deixando para trás uma impressionante colecção de vitórias militares desde Austerlitz. Valença, Cerveira e Caminha resistem em Fevereiro de 1809 e im- pedem a sua caminhada em direcção ao Porto.