Armindo Veloso



Surpresas
Lembro-me, como se fosse hoje, de estar parado horas numa fila interminável de carros que ligava a praia a Braga. Quem não se lembra das dificuldades de passar em Barcelinhos num domingo de Verão?...
Ensopados no ar condicionado que as janelas abertas do carro proporcionavam ouvi, de fio a pavio, o discurso de Aníbal Cavaco Silva, vencedor do congresso do PSD que decorreu nesse fim-de-semana, o célebre congresso da Figueira da Foz, o qual ganhou por uma unha negra a João Salgueiro.
Detestei o homem. Não gostei do discurso e fiquei espantado como aquele senhor antipático e hirto ganhou o congresso.
O que é certo é que com o país em frangalhos e com o fim do bloco central, Cavaco ganhou com trinta e poucos por cento de votos as eleições e tornou-se Primeiro Ministro de Portugal.
Paulatinamente, a imagem de antipático foi-se diluindo na de homem competente e sério.
Estas últimas características passaram a prevalecer e nas eleições seguintes, duas, ultrapassou os cinquenta por cento de votos expressos. É obra.
Não sei porquê e, sendo as circunstâncias completamente diferentes, olhando para a dra. Manuela Ferreira Leite vejo algumas características semelhantes.
Muito provavelmente nada se passará de parecido. O mundo e o Portugal de hoje vivem na era do mediatismo o que não acontecia então e o mediatismo faz lei.
No entanto, ainda faltam uns meses – como todos constatamos, dois ou três meses podem mudar o mundo – para as eleições legislativas e pelo andar da carruagem nunca se sabe o que poderá acontecer.
Quem imaginaria Zapatero a presidente do governo espanhol? Quem acreditava na vitória de Obama? Quem daria alguma hipótese a Gordon Brown na Inglaterra que não tendo ido a eleições começa a ver luz ao fundo do túnel? Quem apostaria no regresso de Berlusconi em Itália?
A dra. Manuela Ferreira Leite está a gerir a imagem ao contrário do que os media querem e não é uma figura mediática. O PSD, urbano, não está a gostar da forma dela actuar.
Mas, se a crise se agudizar ainda mais ou se cair um “Freeport”, a sério, na cabeça de José Sócrates, ainda a vamos ver a primeira ministra.
O voto silencioso é que decide as eleições não são as sondagens.
A vida é uma caixa de surpresas. E a política faz parte da vida. A ver vamos.
Até um dia destes.