Armindo Veloso



"S"ENAS
O jornalista Sena Santos é, era, para a minha geração uma referência no jornalismo radiofónico.
Com a sua voz permanentemente excitada mas com tudo no lugar certo, transmitia, paradoxalmente, confiança e credibilidade.
Quem não se lembra dos relatos feitos na Antena 1 dos factos que iam acontecendo durante o bloqueio na ponte 25 de Abril com o célebre “buzinão”, expressão da sua autoria?
Há alguns anos atrás, talvez três, soube-se que Sena Santos tinha sido despedido da rádio pública por atitudes que não vou enumerar neste espaço, público, porque corro o risco de não ser exacto na exemplificação. No entanto, perante tantas informações transmitidas e nunca desmentidas e uma vez que, de facto, Sena Santos se eclipsou não será boato concluirmos que neste caso não haverá fumo sem fogo.
O que leva um homem como Sena Santos a cometer tantas, disseram, falhas primárias naquilo que há de tão essencial em qualquer cidadão comum que é a gestão do dinheiro e afins?
A comunicação social tem destes perigos. Tratando- -se de um mundo onde as pessoas se relacionam com todos os gurus, desde políticos passando por empresários, também é um mundo onde, na maioria dos casos, se ganha pouco ou mesmo muito pouco.
Se não houver permanente atenção, os jornalistas, principalmente os da velha guarda, que têm uma vida muitas das vezes sem horas e a desoras, facilmente embarcam por caminhos perigosos.
Se se deixam seduzir por uns jantarzitos ou uns whiskyzitos, poder-lhes-á chegar a factura mais tarde ou mais cedo.
Se querem ser fortes e pagam o assédio da vida, ficam tesos nos primeiros dez dias do mês. É uma chatice. É claro, dirão, que este tipo de problemas não é, longe disso, exclusivo dos jornalistas. Porém, digo eu, o jornalismo é muito especial e paradoxal. Necessita de uma grande exposição pública mas necessita também, os salários a isso obrigam, a regras de gastos muito rígidas.
Sem isso, podem, podemos, facilmente fazer “S”enas...

Até um dia destes.