Cem anos de República (23)

Da fome e da miséria
às bombas de dinamite

Na crónica anterior abordávamos os primeiros conflitos da República com a Igreja, no Natal de há 100 anos. A situação agravou-se em Maio, quando se celebravam 25 anos da Consagração de Braga ao Coração de Jesus. No dia 16, de manhã, as bandas de música percorrem a cidade mas foram silenciadas à tarde e os foguetes ficaram em terra. A cidade viveu manifestações republicanas que semearam o vandalismo em instituições e imóveis religiosos.
A hostilidade entre Governo e Igreja subia de tom com o exílio imposto a vários bispos, enquanto em Braga se procedia ao arrolamento e confisco dos bens eclesiásticos de 200 misericórdias e irmandades. O arcebispo de Braga, D. Manuel Cunha, é suspenso pelo Governo e exilado para fora do território da Diocese por dois anos. Só em 1915, Braga volta a ter Arcebispo, com D. Manuel Vieira de Matos, que já tinha sido detido também.
A dispersão dos grandes dirigentes bracarenses republicanos para Lisboa e para o Governo, enfraquece o partido em Braga e surgem novas agremiações políticas (Evolucionista, Unionista, etc.) e alguns manifestam-se claramente envolvidos na rebelião monárquica de Outubro de 1913.

Efeitos da Guerra

Estamos a um ano da I Guerra Mundial, que envolve Portugal desde Março de 1916, multiplicando-se em Braga as manifestações a favor da entrada de Portugal no conflito, ao mesmo tempo que grassava a escassez de bens alimentares no Minho. Os assaltos a cereais, por exemplo sucediam-se um pouco por todo o lado (cf. Commercio do Minho, 13 de Abril de 1916, sobre assalto em Cabreiros e greve dos panificadores de Braga por falta de milho e trigo). A venda de pão passa a ser racionada, o povo protesta, a GNR agride e é agredida por populares arrebanhados ao toque a rebate dos sinos das igrejas, um pouco por todo o lado.
A greves dos padeiros alastram a outras classes, como calçado, serviços, contra o desemprego, a fome que potencia doenças, como a tuberculose, mas o Governo mantém firmeza no combate contra a Igreja.
Em Braga, é proibida em 1916 a Peregrinação ao Sameiro e no ano seguinte é proibida a Procissão de Passos, enquanto na frente de batalha os nossos soldados pediam padres capelães para lhes darem apoio espiritual...