Cem anos de República (21)

Um retrato do Minho
em Outubro de 1910

Que descrição podemos fazer do Minho quando eclodiu a revolução republicana? A dimensão rural entrava pelos muros dentro da cidade medieval que era Braga, com escassos milhares de habitantes, ao mesmo tempo que chegavam às nossas aldeias alguns ecos da influência da onda migratória a que o país assistiu nas duas últimas décadas do século XIX.
Em Braga, a par de muitos edifícios religiosos, deparamos com vários imóveis destinados a fins militares e uma ou outra associação de cariz sócio-caritativo (Associação Fúnebre e Montepio de S. António ou de S. José).
O analfabetismo — com os malefícios conhecidos — é muito elevado, percebendo- -se assim a pobreza material da população urbana e rural bem como a escassa participação política dos minhotos. No distrito de Braga, 77 por cento eram analfabetos, na capital do Minho havia um liceu, várias escolas primárias e seminários. A Biblioteca Pública “não tem uma única vidraça que não esteja a cair de podre”.
O número de pobres que vagueavam pela cidade é difícil de entender por nós. O Jornal “Commercio do Minho” dava conta da existência de quatrocentos pobres que, um ano após a implantação da República, recebiam géneros e algum dinheiro para as primeiras necessidade. Era o bodo dos pobres que, com a chegada da I Guerra Mundial, assume números dramáticos: em 1919 havia duas mil pessoas que recebiam o bodo dos pobres em Braga.
O vaguear dos mendigos pelas ruas levou o escritor Miguel Unamuno a escrever, quando visitou o Minho: “sinto ferida a minha dignidade humana” porque “se privam a estes desgraçados as mais caras, liberdades, mas não a liberdade de pedir esmola”.
Não fora a acção do bispo D. Frei Caetano Brandão, promotor de uma feira agrícola e industrial, uns anos, antes, quase se podia dizer que em Braga nada acontecia em termos culturais, sociais e económicos. Se assim era na grande cidade, podemos extrapolar sem exageros para o vazio das nossas aldeias que apenas eram agitadas pela irreverência de um ou outro Reverendo pároco.
Surgiam as primeiras fábricas de chapéus, de sedas enquanto o Teatro S. Geraldo era o único espaço cultural e político da cidade.
No início do século XX, Braga e seu termo sentiam carências enormes na saúde, na educação, no abastecimento de água e nas vias de comunicação. Sirva de exemplo, para percebermos, que não existia estrada entre Braga e Chaves e só no ano 1900 arrancaram as obras de ligação à cidade transmontana.
A electricidade chegava a Braga mas registavam-se muitos cortes e interrupções e em muitas aldeias — apesar de tantas décadas após a Revolta da ria da Fonte — ainda se faziam enterros dentro das Igrejas, contra todas as normas de saúde e nos adros...