Cem anos de República (6)

Roubos e violência mortal sucedem-se à Setembrada
Entendido como Braga e todo o Minho abraçaram a causa miguelista devido à matriz religiosa do discurso político de D. Miguel, com a sua componente messiânica, contribuindo para a resistência miguelista entre 1836 e 1846 traduzida numa guerra civil que fez fazer sangrar este país, trinta anos depois das invasões francesas... sem lei e sem autoridade.
É exemplar desta situação, a execução de Serafim, da Póvoa de Lanhoso, pelas mortes que tinha feito neste concelho e em Braga. Apesar do arrependimento, as autoridades não lhe perdoaram e condenaram à pena capital, na Senhora-a-Branca, em Braga, a escassos metros do campo de Sant'Ana, onde fora instalada em 1838, uma forca. Escreve um habitante de Braga que, "apesar de ser um dia de chuva concorreu muita gente" para ver a execução da pena (cf. "Lembranças do Gusmão, 1826-1846”).
Os miguelistas, no estrangeiro, não perdoavam aos liberais a perda do Brasil, os graves problemas económicos do reinado de D. Pedro, que encontravam o terreno fértil da guerra civil no descontentamento e desilusão geral dos rurais e dos soldados enquanto os liberais se fragmentavam.
A vida política portuguesa não estabilizou com a vitória liberal em 1834. Dois anos depois, surge a Setembrada perpetrada por liberais radicais.
Em Braga, por exemplo, em Julho de 1838, o povo levantava-se contra as Fintas (um imposto lançado sobre o rendimento de cada cidadão - espécie de IRS moderno — para aplicar a obras públicas, como melhoramento de fontes, de estradas e de pontes.
Lá por fora, no Congresso das Nações do Norte, falava-se a favor do rei D. Miguel e o Governo liberal decretava pena de morte a quem falasse nesse congresso a favor do rei exilado.

UMA FORCA
E MAIS IMPOSTOS

Em Braga, começava a fabricar-se uma forca, na actual Avenida Central (Campo de Sant'Ana), para executar uma pena de morte de um tal Jejum, rodeado de cinco padres, no dia 6 de Setembro de 1838.
Braga resistia e elegia os mesmos vereadores que dias antes tinham sido demitidos por infâmia pelo Governo liberal em Lisboa, gerando-se uma disputa entre dois executivos, um fiel aos li- berais (Chamorros) e outro eleito pelas forças vivas de Braga (Mijados).
Em Fevereiro de 1939, há nova contestação à Câmara de Braga por ter aumentado as décimas em algumas freguesias das aldeias. As décimas eram um tributo civil semelhante à dízima (décima parte) sobre as rendas recebidas pelos proprietários.
Em Maio deste ano, surge boato em Braga de um golpe miguelista e a rua de S. João foi cercada para prender alguns "grandes" de Braga comprometidos ainda com o rei D. Miguel, quando chegava a água pública à rua da Cruz de Pedra pela primeira vez. O facto foi assinalado com foguetes...