EDITORIAL

Armindo Veloso




A CULTURA E O POPULISMO
Há pessoas que militam na esquerda intelectual e vivem acantonadas no seu mundo da cultura que, muitas vezes sem darem por isso, desprezam aqueles que vivem no meio do povo tomando café com este, cerveja com aquele, não faltando a nenhum funeral e mostrando-se em todos os casamentos. Chamam a isso populismo e, muitas vezes, com razão. Como seria bom que o meio termo imperasse!
Este tipo de indivíduos é fundamental numa nação moderna e democrática. Lá vão fazendo alguma coisa que reverte em prol de todos, seja nos livros que escrevem, nos artigos de jornais ou revistas que editam ou nas conferências, a maioria nocturnas, que proferem.
Porém, a maioria deles está tão fora do mundo real que são um desastre a gerir o que quer que seja. Quando são chamados para desempenharem lugares, por exemplo de presidente de Câmara, mantêm uma postura relativamente próxima do povo e gerem a sua imagem imperial.
O problema é que o povo, quando é chamado a decidir, vota, na maioria das vezes, nos candidatos que lhes dão mais garantias de que vão fazer a maior parte das coisas que prometeram.
Eles querem quem faça as estradas que andaram a ser prometidas há anos; quem lhes leve a água pública junto de suas casas; quem lhes ponha a energia eléctrica onde quer que estejam; ter saneamento básico; serem recebidos sem salamaleques pelos serviços camarários, pelos vereadores ou mesmo pelo presidente; querem que o seu autarca vá à festinha da paróquia da sua aldeia; gostam que o presidente vá ao funeral do avô velhinho que morreu; gostam de quem lhes dê uma palmada nas costas, enfim, gostam de quem estiver próximo deles e de quem ponha as unhas de fora pela sua terra ao negociar com o poder central.
Chamando-lhes populistas ou não, o povo prefere gente que faz! E o povo é quem mais ordena.
Ou só ordena quando convém?...
Até um dia destes.