EDITORIAL

Armindo Veloso



Escalar e cair

Certo dia, num parque de diversões, tive uma sensação horrível. Entusiasmado pelos amigos entrei numa gaiola que subia lentamente a pique, suportada numa coluna metálica, cerca de quarenta metros e, lá no topo, era deixada cair, em queda livre, até meia dúzia de metros do chão, cujo sistema hidráulico a ia aparando.
Os órgãos internos eram atirados, pela força da gravidade, contra todos os pára-choques existentes nas entranhas.
Tenho nessa “armadilha” uma estupidez irrepetível.
Esta história, salvo as devidas proporções, faz-me lembrar um pouco o que se está a passar com a nossa economia; finanças públicas e privadas.
Enquanto as nossas finanças privadas, em última instância são essas que contam, iam subindo lentamente durante estes vinte anos “loucos”, nós fomos gostando tanto quanto eu gostei da paisagem na subida da tal gaiola. Chegados ao topo do consumismo, enganados, não por amigos de feira mas por mercados insaciáveis, e fomos largados às feras desses mesmos mercados, a queda foi, é e será brutal.
Ainda estamos a tempo de fazer com que a rampa não desça a pique e se transforme num desfiladeiro íngreme. Talvez a maior dificuldade vá ser a de desfazermos as ilusões que, complacentemente, fomos deixando incutir nas novas gerações. Para esses, a queda vai mesmo ser a pique. Que tenham pára-choques resistentes. É o que esperamos.

Estamos outra vez no Natal.
Ainda ontem o tempo nunca mais passava.

BOAS FESTAS PARA TODOS

Até um dia destes!