Eléctricos trouxeram
esmolas para os pobres
Naquele dia 18 de Outubro de 1918, Braga teve direito dupla festa: foi inaugurada a tracção eléctrica nos transportes urbanos, numa altura em que o país se preparava para a trágica aventura da I Guerra Mundial, e foram distribuídas mil esmolas de 300 reis aos pobres das freguesias da cidade, vincando o espírito solidário da República, nascida quatro anos antes.
De facto, no dia 5 de Outubro, desde o ano 1911, Braga despertava os seus 400 pobres (que chegaram a ser dois mil em 1919) para receberem o “bodo” (um quilo de arroz, um bacalhau, uma broa de pão e 200reis em dinheiro).
Era o culminar de um longo percurso de reivindicações de Braga que vinham desde o século anterior, dando corpo a um levantamento de Braga contra o centralismo lisboeta.
Braga ansiava que os novos senhores de Lisboa cumprissem promessas feitas nas décadas anteriores, como a ligação até Chaves por caminho de ferro, ao tempo do governador civil Jerónimo Pimentel.
Também a ligação ferroviária entre Braga e Guimarães ficava apenas no papel das promessas, desenvolvendo-se então um esforço para assegurar, pelo menos, que os republicanos construíssem a ligação de comboio entre Braga e Monção, numa altura em que o Governo decidira fazer a ligação entre Guimarães e Fafe.
A última promessa
de D. Manuel II a Braga
Braga esperava que o dinheiro “republicano” chegasse para os seus sonhos, transformando-se num novo “entroncamento” ferroviário para todo o Minho. Eram sonhos defendidos pela Liga de Defesa e Propaganda de Braga que obtêm a autorização do rei D. Manuel II, em 1910... mas não se concretizaram até hoje e os bracarenses tiveram de contentar-se com os eléctricos.
Enquanto o país ia assistindo à fragmentação do Partido Republicano no grupo Democrático de Afonso Costa, no Evolucionista de António José de Almeida e na União Republicana de Brito Camacho e a consequente instabilidade governativa, acentuava-se o combate ao “único perigo real”, a Igreja, ao mesmo tempo que surgiam aqui e ali, como em Fafe, as conspirações monár-quicas, através do Integralismo Lusitano que valorizava a família e segurava a propriedade privada.